COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ.

Ela era meio cigana. Dizia que tinha nascido em uma tenda de circo, e que não ficava numa mesma cidade mais que três anos. Dava de pedir minha mão pra ler minha sorte nas linhas desenhadas na palma branca. Falava que parecia borracha a palma da minha mão. Nunca disse que eu seria um milionário. Falava que minha esposa morreria queimada em um acidente de carro. Eu dizia à ela que não sabia dirigir, nem muito menos pensava em me casar. Ela respondia que um dia sim. Nós nos amávamos como se cada foda fosse à última de nossas vidas. Era por isso que eu a amava. Era por isso e por muito mais que à amei durante um tempo de minha vida. Os 10 meses que passamos juntos e um tempo mais que levou para pensar que tinha esquecido. Mas nunca consegui por completo. Você só ama o que não pode mais tocar. Eu pensava. Nós andávamos pela praia à noite, dormíamos na areia agarrados e acordávamos com malucos tentando roubar nossas carteiras ou sapatos. Ou acordávamos com o sol quente do verão nos despertando e nos cegando os olhos. À amei desesperadamente enquanto estávamos juntos e um tempo depois. Quando ela foi embora, sai procurando nas cidades vizinhas. Mas nunca um sinal. Nunca soube seu nome de verdade. O que ficou pra mim foi o gosto de sua boca que ainda sinto na minha em noites que me banho em estrelas, ou o cheiro de seu cabelo que me vem às vezes quando bate o vendo. Nós nos amávamos como se aquela fosse a última vez em nossas vidas. E eu sabia, mesmo sem ela me dizer nada, que a qualquer momento poderia ser. Só se vive uma vez. Um dia acordei e ela havia sumido. Não deixou bilhete, nada, nem seu nome verdadeiro escrito em um papel. Cada vez era como se fosse a última. E eu adorava.
25/12/11 00:10 - 00:20

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