ESCURIDÃO.
Não
sei há quantos dias estou aqui. Não sei onde estou. É escuro,
abafado, úmido. Sinto as paredes molhadas, talvez de meu suor.
Existe um ventilador em uma das paredes, sei que está lá embora não
o consiga ver por completo. Sinto o vento quente que sopra. O ar não
circula no quarto, então o vento que sopra é quente. Meu suor. Está
por todo meu corpo. Meu corpo está sempre molhado de suor. Isso me
incomoda. Já estou me acostumando. Acorrentado dessa forma não
posso fazer muita coisa. Não sei o que deveria fazer. Não sei há
quantos dias estou aqui. Não sei por quantos dias mais vou
permanecer neste lugar. Não sei o que fiz, elas não dizem, eu nunca
pergunto. Eu não saberia como perguntar. E mesmo assim sei de
antemão que elas não me responderiam.
As
duas. Se revezam pra me trazer o que comer e o que beber. Não
consigo ver o rosto de nenhuma. Só o formato do corpo. Às vezes
consigo ver algo, quando existe luz. Elas mantêm o controle sobre a
iluminação do quarto. Não tenho muito o que reclamar, fora essa
corrente que me prende ao pé da cama, o resto é até razoável. A
corrente está presa em minha perna e já começou a me ferir. Tudo
bem que a culpa é minha. Quando acordei aqui, me mexia muito,
tentava tirar, pensava que conseguiria, ainda não sabia que não
seria possível.
Os
olhos se acostumaram com a escuridão. No primeiro momento entrei em
pânico. Acordei e só existia escuridão. Com o tempo consegui
distinguir o que havia no quarto. Fora a cama onde acordei, sei do
ventilador que sinto o vento. Existe um chuveiro, privada, descarga.
Duas vezes por dia uma janelinha na parte de baixo da porta se abre e
a comida é mandada pra dentro do quarto. Quando não, elas vêm aqui
e me entregam a bandeja com o alimento e algo pra beber. Deixam água
pra eu passar o dia. Não muita, só o razoável pro dia.
No
começo, junto com as primeiras aparições, até pensei em
atacá-las, mas cheguei à conclusão de que seria inútil. Entram,
colocam comida perto de mim. Às vezes entram e ficam me observando,
só isso. Algumas luzes são acessas e eu consigo ver um pouco de
seus corpos, mas nunca o rosto. As luzes me cegam os olhos, quando
são ligadas não consigo ver direito.
A
mais bonita é calma. Sei que seu cabelo é preto, consigo sentir
pelo toque, pelo cheiro. Suas pernas são bonitas, seus pés também.
Gosto de beijá-los. Sei que ela gosta que eu faça isso, dês do
princípio soube quando ela com luz só nas pernas e nos pés os
colocou perto de mim enquanto eu estava deitado no chão. Eu sabia
que tinha que ficar de joelhos e beijá-los, lambê-los. E assim
faço. Beijo, passo a língua. Ela fica parada, sei que de cima me
olha. Com ela o sexo é quente, consigo sentir seu calor sendo
exalado. Seu sexo é quente e molhado, seu líquido me cai na boca.
Sinto e gosto do cheiro do seu sexo, é calmo, quente. As luzes
diminuem cada vez que ela senta em mim. Sinto suas coxas, seu sexo
molhado molhando o meu. Mas ela me tortura quando está em cima de
mim, me faz segurar o gozo por muito tempo. Somente quando ela chega
a algum tipo de prazer que não sei qual é, aí sim posso gozar
também.
A
outra é diferente. Seu corpo é disforme, frio, consigo sentir
quando o toco. Ela nunca toca em mim, nunca tocou, sou sempre eu que
tenho que me aproximar, sou sempre eu que tenho que tocá-la. Um
corpo disforme, frio, molhado de suor. Ao contrário da outra, ela
sempre vêm nua. Seu sexo tem os pelos raspados por uma navalha ruim.
Seu sexo é volumoso de carne, seu clitóris é grande, seu sexo tem
um cheiro ruim, consigo sentir mesmo à distância, e quando ela se
excita, o cheiro aumenta. Mesmo assim sei que tenho que me aproximar
e o tocar com a língua. Gosto metálico. Mesmo sentindo nojo sei que
tenho que o tocar com minhas mãos e minha boca. Às vezes a penetro.
Mas só quando vejo que ela quer que eu faça isso.
Passo
meus dias nisso. Essas visitas, alimentos. Não sei quem são elas.
Não sei como cheguei aqui. Acho que há mais de dois meses, mas sei
que também poderia ser menos. Sinto que fui drogado pra ser trazido,
quando acordei senti aquela sensação de quem dorme há dias.
Não
sei quanto tempo mais ficarei aqui trancado, sendo observado,
alimentado e servindo para satisfação das duas. Sei que não posso
perguntar. Sei que se mesmo assim o fizesse não receberia resposta.
Não sei por quanto tempo será assim.
09/02/2009
00:41
Comentários