VIDA DE INTERIOR.
A
Zé Grilo, Procópio, Cecília, Jacó, Celina, Quinha, Josepha, Mazé,
Nireuda.
In
Memorian de Munda.
Rebeca
vem descendo a rua, já tá ficando moça, os seios já despontam e
apontam pro começo da estrada lá embaixo, os peito apontando
mais pra cima, e ainda têm 14 anos, veja só! No meu tempo as menina
demoravam mais pra criar peito e ficarem mulher. Mas veja só a Elda,
treze ano e já é um pedação de mulhé, uma tentação que só
vendo. Toda vez que passa por aqui tenho que segurar ozolho porque
se não vão junto com ela, e olha que pernas a menina tem! Duas
perna morena que tão sempre à mostra por causa das saia pequena que
as menina de hoje usa. No meu tempo as menina andava mais vestida.
Acho que gosto mais dos tempo de hoje. O problema é só você dizê
alguma coisa com uma delas, aí sim é um problema. Você veja o caso
da Elda, aos treze ano e já deu aquele problema com aquele sujeito
lá do outro lado. Pegaram eles dois não sei onde fazendo não sei o
quê, só vi o tamanho da confusão e da falação que deu tudo. O
pai dela descendo a mil nessa rua onde só moto desce rápido. Pois desceu mais rápido que moto, e quando trouxe ela, eu nem vi,
tive que fazer nem me lembro mais o quê. Daí ela nem saía de casa,
só pra ir pro colégio. Hoje passa pra lá e pra cá com a Rebeca, e
vive de conversa com aquele outro sujeito, lá pelas horas da noite.
Daqui uns dia a Rebeca vai ser mulher toda. Daqui uns dia.
O
Procópio deu pra ajeitar a frente da casa hoje, ainda não começô
a beber. “Ô
Procópio, cadê a cachaça?”
Pergunto
soltando um grito pro outro lado da rua. Ele olha de lado e responde:
“Cadê?!”
Zé
grilo que vinha lá de baixo ri olhando pra mim. “Ainda
não começou a beber, esse aí, mas também quando começá, só
para quando caí”.
Diz.
“Pra
onde esse ai vai?”
Pergunta a Munda sentada do meu lado esquerdo. É o seu João que vem
descendo. “Pra
onde tu vai, João?”
A Munda pergunta. “Vô
lá na fêra, ver se ainda encontro alguma coisa pra comprá.”
Responde o João já indo. “Arrancaram
todo os mato, tu viu?”
Pergunta o Zé. “É,
foi, a máquina veio ontem e arrancou tudo. Agora tá
tudo limpo, limpo.”
Responde a Munda. “Agora
quando vier as chuva, não vai dá muito trabalho pra gente, não é
verdade”
O Zé pergunta olhando pra mim e pra Munda ao mesmo tempo. “È
verdade Zé, é verdade, agora ficou tudo limpo.”
Eu respondo enquanto vejo seu Raimundo vindo lá de dentro dos mato
com um balde de manga. “Você
divia era dar uma dessas manga pra mim, ô Raimundo.”
A Munda diz rindo. Seu Raimundo se aproxima e dá a maior manga que
traz no balde, sorri e vai embora. “Agente
diz assim pra ele dar de verdade.”
Diz a Munda rindo. Eu dou uma risada e digo: “Essa
Munda se criou foi sozinha, Zé!”
O Zé ri. A Munda ri e diz: “Eu
deixei de ser besta foi cedo.”
Todos nós rimos. “Ô
Procópio, cadê a cachaça?”
Pergunto num grito. Ele ri e de diz: “Cadê?”.
“Ele
já tá quase terminando, e isso por que ainda não tá bebeno, porque
se tivesse, vixe! Nem tinha começado.”
O Zé me diz. Lá de cima vem descendo um cachorro, “Vá
vestir suas calça, cachorro!”
É a Munda quem fala. Todo cachorro que para perto dela, ela diz isso.
“Os
cachorro tudo sem calça heim, Munda?!”
Digo. “Pois
num é, uma arrumação dessas, cachorro e cachorra tudo sem calça!”
Ela responde. Sobe um de moto, daqui pra pôco é um outro que vai
descer. Ontem o menino do seu Rogério levou uma queda lá em cima. É
desse jeito sempre, vivo aqui a minha vida inteira, os dias são
sempre assim, o banco na calçada, o povo que sobe e que desce, as
festa na praça que eu só vô de vez em quanto hoje em dia. Ô vida
besta essa!
11/01/2008
14:40
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