O BRANCO.



Segurava canetas com a mão direita,
Tinha mania de sempre ocupar a esquerda com qualquer outra coisa.
Fingia ler livro de trás para frente,
Mas na verdade só gostava de ver as figuras.
(Sofreu muito quando ainda pequeno
O professor lhe deu um livro sem gravuras.
Trauma grande, cinco anos sem ler ou pegar em livro algum)
Considerava-se o mais diferente dos seres.
Mais comum impossível.
Pensava ser o mais estranho dos homens,
Se não, chegava bem perto.
Sonhava em ser grande,
Mas se incomodava com o fato de descender de família de baixa estatura.
Guardava as melhores roupas para ocasiões especiais,
Mas como nunca era convidado para festas ou algo do tipo
(Se convidar? jamais, muita falta de educação)
As roupas acabavam ficando velhas, saindo de moda.
Incomodado com os vizinhos pensou em mudar de casa,
Bairro,
E até cogitou sair da cidade,
Mas devido ao trabalho que teria com a mudança
Preferiu continuar onde morava.
Faz meses que não o vejo,
Mas sei que quando reencontrá-lo
Será aquela mesma coisa
Mesma conversa,
Nem vale relatar.
Comprava jornais e revistas
Mas dizia não ler
Por medo de saber o que estaria acontecendo de ruim no mundo.
Sentia-se sempre perdido
Mas uma coisa que fazia com facilidade
Era encontrar-se no mapa.

26/05/2006 07:10


Comentários

Anônimo disse…
Admirável texto. Grato somos por comtemplar escritas tão singulares deste mundo plural.
Carlos Alberto disse…
Grato por este bondoso comentário.
Anônimo disse…
Gostei muito desse texto.

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