A MARCA DA PUREZA.

Personagens reprimidos e repressores. É mais ou menos isso que vejo nas obras de Michael Haneke. Foi isso que vi em “A professora de Piano” (disgusting movie) e em “Cachê”. Um mundo de segredos, o homem e seus segredos. Seus assassinatos noturnos, seus sonhos não concluídos, seus desejos mais agressivos e mais guardados. Medo. Personagens reprimidos. É mais ou menos isso que vejo nas obras do diretor Austriáco.
Não foi diferente em “A Fita Branca”, seu mais novo filme. Nele Haneke vai da trama pública para a privada. Para o drama de uma pequena sociedade, para o drama privado de seus habitantes, e para mais fundo, para os dramas internos das pessoas.
Haneke cria uma narrativa contando a história de um pequeno vilarejo no meio do nada da Alemanha, que começa a ter a suposta paz perturbada depois que alguns acontecimentos misteriosos. É depois que o médico da cidade sofre um sério acidente caindo de um cavalo que ficou preso em uma armadilha, que autoridades são chamadas para investigar. E então acontecimentos cada vez mais estranhos começam a surgir. Uma senhora que morre em um acidente de trabalho. Um seleiro que pega fogo misteriosamente na escuridão da noite. O filho do barão que é misteriosamente raptado e surrado violentamente. O filho do médico que é raptado e tem os olhos surrados e quase arrancados. Acontecimentos que depois se mostram como punição.
É dentro de acontecimentos como estes que Haneke entra nas vidas dos habitantes da aldeia e mostra suas vidas. Um pai que pune o filho por ele ter descoberto o próprio prazer, que por não confiar mais nos filhos envolve em seus braços uma fita branca para que eles possam carregar a cor da pureza em seus corpos, até que encontrem o mesmo dentro de si. Um pai que comete o suicídio porque não tem mais trabalho para colocar comida em casa para os filhos. O pai que à noite, enquanto o filho mais novo dorme, molesta a filha adolescente, e que durante o dia tem um caso com sua ajudante por quem sente tanto nojo, enquanto essa lhe guarda tanto afeto.
“A Fita Branca” fala da incompreensão do ser para com o outro. Da impunidade. Dos segredos guardados e dos revelados que ficam em silêncio. Haneke usa uma fotografia preta e branca chapada com muita pouca luminosidade, mostrando espaços vazios e escuros. Espaços vazios e escuros como os que guardamos dentro de nós. E silêncio, para falar do medo guardado.
A Fita Branca - Das Weisse Band
Origem: Austria, França, Alemanha e Itália
Direção e Roteiro: Michael Haneke
Duração: 144 min.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SUGAR.